terça-feira, 16 de junho de 2009

O desejo de ser prefeito


O secretário municipal de Esportes reafirma seu apoio a candidatura presidencial do governador paulista, José Serra, e diz que a idéia de prévias do PSDB já foi dissolvida

Por Luiz Henrique Mendes 

“Eu nunca neguei esse desejo [de ser prefeito], mas não trabalho por ele. Essa é uma decisão da conjuntura política da época. Então, mesmo querendo, passa batido."

O secretário municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo, Walter Feldman, foi um dos tucanos mais entusiastas da candidatura a reeleição do prefeito Gilberto Kassab (DEM-SP), no ano passado. Ele se desentendeu com companheiros do PSDB que apoiaram Geraldo Alckmin no pleito municipal. No ápice da crise interna tucana, Feldman recebeu um pedido de exclusão do partido, que após a eleição de Kassab foi engavetado. Membro do PSDB desde sua fundação, este paulistano integra comissão instituída para estudar as mudanças necessárias para a cidade de São Paulo sediar a Copa de 2014.  Em sua sala, na sede da Secretaria Municipal de Esportes, Feldman nos deu a seguinte entrevista.

O comitê organizador da Copa do Mundo de 2014 vai decidir as cidades-sede e São Paulo é uma das cidades favoritas. Como a Secretaria Municipal de Esportes está se preparando?

Nós fazemos parte da comissão criada pelo governador Serra e pelo prefeito Kassab, presidida pelo presidente da SpTuris, Caio de Carvalho, e composta por mim e pelo secretário do Estado de Esportes e Turismo, Claury Alves da Silva. Nós estamos acompanhando tudo em termos das visitas do Comitê da FIFA, estudo sobre o caderno de encargos, viabilização de tudo aquilo que lá é demandado, acompanhando o processo que deve viabilizar o Morumbi como o estádio paulista e fazendo as exposições de como São Paulo efetivamente vai se envolver, tanto a cidade como o estado, nesse processo, dando as condições de receptivo, de infraestrutura, de modernização que a cidade precisa alcançar até lá, para que ela seja um dos destaques da Copa 2014.

"Nenhuma cidade grande do mundo terá o seu trânsito equacionado. Seria leviano dizer que estará resolvido"

Os problemas com o trânsito da cidade estarão equacionados até 2014?

Nenhuma cidade grande do mundo terá o seu trânsito equacionado. A tendência é cada vez ficar mais difícil esse problema, por conta da entrada diária de mil carros na nossa cidade. O prefeito Gilberto Kassab tem dado prioridade à questão do trânsito, aumento da tecnologia, contratação de pessoal, todo um processo de análise da logística daquela região em termos de transporte coletivo, deslocamento de veículos particulares, construção de prédio-garagem ou de uma garagem subterrânea. Tudo isso vem sendo pensado para que o trânsito de São Paulo, não apenas para a questão da Copa, mas melhore muito, até porque é um dos problemas mais dramáticos da nossa cidade. Nós vamos investir parte ponderável de recursos para melhorar a situação do trânsito da cidade. Mas seria leviano dizer que estará resolvido

Em relação ao estádio do Pacaembu, administrado pela Prefeitura de São Paulo, o senhor tem se mostrado favorável a realização de um debate público sobre a concessão do Pacaembu. O senhor é a favor de concessão do estádio?

Sou a favor do debate. É o que me cabe neste momento. Seu eu manifestasse preliminarmente a minha opinião, já estaria trabalhando no debate para que isso acontecesse. Então, tenho levantado os argumentos a favor e contra, exposto de maneira transparente toda a realidade de funcionamento do Pacaembu, levantado questionamentos sobre se isso seria uma atividade pública ou ela seria melhor desenvolvida pelo setor privado. Então, nós queremos, no bom sentido, radicalizar o debate. Pedir para que todas as pessoas, de alguma maneira, se manifestem e que o destino do Pacaembu seja uma decisão tomada por todos.

E a questão do tobogã? Muitos são a favor da volta da concha acústica. Esse projeto existe?
Muito se falou sobre isso, mas hoje é inviável voltar por vários motivos. Primeiro, porque a concha acústica é uma evocação de um tempo onde se faziam consertos ao ar livre, em espaços relativamente pequenos. À época, era um espaço adequado. Hoje em dia, você não faz uma manifestação cultural pequena, como a Virada Cultural demonstrou. Segundo, você retiraria 10 mil torcedores do estádio. Então, nós estamos pensando em mecanismos mais artísticos, que revigorem a idéia do tempo em que a concha acústica existia. Mas reconstruí-la e destruir, não o tobogã, mas estamos pensando em completar o arco do Pacaembu, quem saber ligar o tobogã ao complexo das arquibancadas, das cadeiras, de forma que fosse um círculo, uma elipse adequada, e não do jeito que está.

Quanto às torcidas organizadas, o ministro do Esporte, Orlando Silva, propôs uma idéia para a criação da carteirinha do torcedor. O senhor concorda com a proposta do ministro?

Ela foi muito combatida pela imprensa, até porque não pareceu que eles têm a expertise de questão do funcionamento, da análise dos estádios, do comportamento dos torcedores, da legislação que hoje existe, do Estatuto do Torcedor, que exige condições de funcionamento com segurança, sem violência nos estádios, adequando mais a questão do conforto àqueles que compram o seu ingresso. À todos pareceu que essa não era uma medida mais adequada e ela poderia também atentar, eventualmente, contra a cidadania na medida que se estaria tirando um direito do cidadão. Então, eu acredito que houve um recuo por parte do Ministério e esse debate de não violência nos estádio precisa prosseguir.

Se o senhor fosse ministro do Esporte, o que o senhor faria para reduzir a violência nos estádios?

Nós estamos estudando muito aqui no Pacaembu, que é um equipamento de nossa responsabilidade. Eu tenho a idéia de que isso vai ser muito reduzido quando houver um sistema que acabe com os cambistas, que acabe com essas catracas dos tíquetes vendidos, que a gente possa avançar no sentido do cartão de crédito, que é um sistema que já tem em vários locais e que faz uma identificação precisa, com o local numerado, de tudo o que possa indiretamente ter todas as informações sobre a presença daquele público no estádio. Parece-me uma ação mais inteligente e mais estratégica do ponto de vista do conhecimento de quem está presente naquele espetáculo.

Outro problema no esporte brasileiro é a questão das federações, confederações , em que existe uma espécie de eternização dos dirigentes. Existem algumas propostas de limitar via Congresso Nacional o número de reeleições. O senhor é a favor?

Sou contra qualquer reeleição, particularmente. Acho que não deveria haver reeleição para presidente, para governador, para prefeito. Acho que na sociedade civil deveria ser assim também. Uma reeleição, no máximo. Poderia ser um belo acordo, mas não poderia haver mais. Não sei se é uma decisão nas instituições da sociedade civil possível de ser abrigada em lei. Parece que isso deveria ser mais regra própria de cada entidade, que trabalhasse no sentido de fazer a sua democratização interna.

Eu sou contra a idéia daqueles que ficam num longo período na mesma instituição, porque é emburrecedor para a entidade, é ruim para quem faz isso porque a própria pessoa não se recicla e, indiretamente, mostra uma dificuldade de trabalhar um sucessor e muitas vezes a reeleição é utilizada com a máquina da própria instituição para derrotar a oposição. Então, reeleição é uma palavra que, em minha opinião, deveria ser extinta do cenário democrático brasileiro.

“Sou contra qualquer reeleição, particularmente. Acho que não deveria haver reeleição para presidente, para governador, para prefeito. (...) Na sociedade civil deveria ser assim também."

Tratando um pouco de política e economia. Como é que a Secretaria de Esportes está lidando com os efeitos da crise mundial?  
Tem sido duro para nós, mas muito responsável. O prefeito Gilberto Kassab, desde o início do anúncio da crise, nos convocou determinando as medidas que deveríamos adotar para nos prevenir em relação aos desgastes que a crise produziria. Nós fizemos cortes profundos. Ontem, nós lançamos o plano de obras da área esportiva, em São Paulo. Fizemos uma redução de mais de 60% daquilo que anunciaríamos. Reduzimos 20% do nosso pessoal, exoneramos pessoas que eram fundamentais para a manutenção do nosso sistema de pessoal. Então, eu diria que é uma interpretação de que a crise é real, ela precisa ser bem tratada para não deixar um passivo de dívidas e compromissos que não serão cumpridos.

Neste sentido, como é que o senhor avalia a atuação do governo federal no combate à crise?

Do ponto de vista das medidas econômicas, diria bastante razoável. O governo também fez as suas precauções muito integrado com estados e municípios. Medidas mais fortes até poderia ser adotadas, corte gastos públicos, mas essa é uma prática que o atual governo federal não tem. Eu acredito que o Brasil, se a crise não se aprofundar, passará até com certa tranqüilidade. Com uma redução temporária dos seus gastos, com medidas econômicas que previnam um desgaste maior, mas sem maiores conseqüências.

2010 é ano de eleição presidencial. O senhor é um notório defensor do governador José Serra à presidência da República em 2010. O senhor aposta num entendimento com o governador Aécio Neves ou PSDB está em rota de colisão insanável?

Nem entendimento com as características de composição e nem briga, porque um debate democrático não caracteriza briga. A idéia das prévias já foram absolvidas e elas se transformaram em festas também de democratização interna. O PSDB não tem tradição de prévias, de primária, de decisões que se antecipem a convenção, mas tendo em vista a existência de dois ou mais candidatos, as prévias se transformaram em medida que pode, como o correr dos anos, se repetir para qualquer decisão majoritária. Então, não haverá briga nem desentendimento, e nem entendimento sem debate interno.

O apoio do DEM ao governador José Serra em 2010 está consolidado?

Totalmente consolidado para o PSDB e, particularmente, com preferência para o governador José Serra.

Apesar deste da parceria DEM-PSDB, dizem que alguns setores do PSDB estariam descontentes com a saída de pessoal da Prefeitura, do PSDB, para a entrada de militantes do DEM. Como o senhor vê essa questão?

Não existe. O PSDB é muito mais pela relação que o governador Serra e o prefeito têm entre si, pelas características das figuras que representam o partido no governo do que por uma aliança partidária, na medida em que não houve apoio eleitoral oficial do PSDB à candidatura do prefeito Gilberto Kassab. Não dá para negar que membros do PSDB dirigem hoje a Secretaria de Saúde, de Esporte, de Educação, de Planejamento, de Segurança Urbana, de Finanças, não dá para negar. São secretarias de governo, que é a mais política de todas. Não dá para negar uma forte presença do PSDB, seria injusto com o prefeito Gilberto Kassab dizer que o espaço do PSDB foi reduzido.

O PSDB e o DEM têm uma aliança história, que começou com o Fernando Henrique, quando presidente. Qual a diferença essencial entre o PSDB e o DEM?

Originalmente, é conceitual. O DEM é um partido de formação doutrinária liberal, ou seja, pensa um pouco mais o Estado com tarefa de infraestrutura, de desenvolvimento econômico. O PSDB é um partido de formação social-democrata, portanto, tem uma preocupação de papel maior do Estado na formulação de políticas sociais. Na prática, essas questões vão se aproximando. Hoje, vários governos do PT, PSDB, do ponto de vista da formulação, tem muitas semelhanças. Aqui no governo municipal, dirigido por um membro do DEM, Gilberto Kassab, eu me sinto muito a vontade como um social-democrata. Não há nenhuma contradição. Os próprios petistas, muitas vezes nos bastidores, revelam que consideram o governo Gilberto Kassab um governo progressista. Portanto, essas questões ideológicas que no passado tinham muita consistência, um atrito, hoje, estão se aproximando.

O senhor concorda com fim da diferença entre direita e esquerda?

Acho que são conceitos antigos, mas que não estão extintos. É natural que a esquerda seja caracterizada com algo, hoje não se usa mais essa expressão, mas uma visão mais social-democrata, socialista de compreender a realidade de uma comunidade e de como o governo deve se empenhar em aplicar políticas em relação a essa população. Mas o que eu digo é que os governos estão se aproximando nas suas ações. É muito difícil um governo de características liberais negar a ação social, porque ele é concreto, faz parte da cultura política brasileira. Não tem como negar aquilo que a sociedade demanda porque aprendeu e porque precisa. Então, eu não usaria muito mais esquerda e direita, mas elas, às vezes, nos ajudam a entender um equívoco, um desvio de um determinado governo. 

O ex-governador Geraldo Alckmin foi nomeado para a Secretaria Estadual de Desenvolvimento. Os grupos liderados pelo governador Serra e por ele estão em paz? Os atritos entre o senhor e ele cessaram?

Eu não diria um atrito. É uma discordância que faz parte da luta política. Eu discordei totalmente da sua candidatura, me manifestei publicamente, mas eu tenho um apreço pessoal muito grande por ele. Nós estivemos juntos em outras batalhas. Eu fui coordenador da campanha dele à prefeito, fui presidente da Assembléia Legislativa quando ele era governador e o substitui no Governo do Estado várias vezes. Participei da sua campanha à reeleição de governador ativamente, fizemos muito campanha juntos, fui eleito deputado federal e, no Congresso, fui o representante dele na Reforma Tributária. Então, eu estou muito mais com ele do que a condição de não ter estado neste episódio, mas já dialogamos muito depois do resultado eleitoral e estamos juntos de novo.

O Alckmin será candidato ao governo do Estado em 2010?

O PSDB ainda vai discutir entre dois nomes: Aloysio Nunes Ferreira e Geraldo Alckmin. Os dois nomes são muito competentes para ocupar o espaço de candidatos e de governador. Nós teremos no começo do ano a decisão final.

Há alguma resistência do DEM ao nome do Alckmin?

Eu não diria que é uma resistência, mas o DEM não tem, em relação ao Governo do Estado, uma posição tão fechada como tem em relação à presidência. Então, em relação à presidência, o DEM quer o José Serra, mas ao Governo do Estado ele não se posicionou, até porque tem um quadro como o Afif que, eventualmente, o DEM queira lançar como candidatura própria.

O senhor é um quadro do PSDB na prefeitura paulistana. Pretende ser candidato a prefeito em 2012?

Eu nunca neguei esse desejo, mas não trabalho por ele, porque hoje compreendo que essa é uma decisão da conjuntura política da época. Ou seja, em 2012, isso estará muito presente e aí as condições e as oportunidades se darão muito mais do que o meu desejo pessoal. Eu posso ter um bom desempenho como secretário, posso ter uma popularidade adequada, mas as condições da eleição podem não ser favoráveis. Então, mesmo querendo, passa batido.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Eu não quero ser jornalista

No país em que o jornal mais influente, de maior circulação, tem apreço pela ditadura, cunhando a canhestra alcunha ditabranda.

No país em que a maior revista em circulação mente, a fim de criar uma crise institucional, que beira o golpismo descabido.  

No país em que a maior rede de televisão manipula insistentemente o imaginário nacional, tenciona, criminaliza movimentos sociais.

No país em que os jornais participam ativamente da luta de classes em prol do capital financeiro.

No país em que a criação de uma tevê pública é um imbróglio sem limites.

Neste país eu não quero ser jornalista.  

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Brasil entrará em recessão em 2009, deseja a Folha

Após minha leitura de “A Saga dos Cães Perdidos”, de Ciro Marcondes Filho, alterei meus conceitos de jornalismo. Marcondes afirma que notícia nada mais que a informação transformada em mercadoria, esta com todos seus apelos estéticos, éticos, políticos, etc. 

Que seja uma mercadoria, vá lá. O que não podemos dizer é que os fatos deixaram de existir.

Pois a Folha de hoje nos brinda com uma peça da pior qualidade jornalística, fazendo nos pensar que os fatos não existam. Eis a principal matéria do caderno de economia do jornal: “Crise interrompe crescimento virtuoso”.   

Uma notícia demasiado ruim, pensará o leitor do jornal. Contudo, o que motiva tal afirmação? É que o PIB brasileiro, no último trimestre, cresceu 6.8%, um resultado surpreendente, fazendo com que o IBGE, inclusive, revisasse a projeção do Produto Interno Bruto anual para cima.

Seguem alguns trechos da reportagem, devidamente comentados pelo blogueiro.

O melhor já ficou para trás. É isso o que os números do PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre de 2008 sugeriram ontem ao apontar um crescimento de 1,8% em relação ao segundo trimestre deste ano e de 6,8% sobre igual período do ano passado

Ficou para trás? Os números sugerem ou o editor sugere? Aos olhos deste blogueiro, um bom resultado da economia brasileira (sim, ela deve sofrer desaceleração por conta da crise internacional, a que o Brasil não contribuiu).

O quase consenso entre economistas e consultorias é que a crise global imporá retração do PIB no último trimestre do ano em relação ao terceiro trimestre. As previsões variam de uma queda de 0,3% a queda de 1%.

Se isso for confirmado, e o PIB continuar se desacelerando ao longo do primeiro trimestre de 2009, o Brasil estará tecnicamente em recessão, com dois trimestres consecutivos de crescimento negativo.

Pronto, está feita a campanha do jornal de rabo preso com o leitor. O Brasil entrará em recessão, ainda que tecnicamente, diz o jornal.

O bom ano de 2008, no entanto, já está garantido. Mesmo que a economia não avance nada no último trimestre ante o mesmo período de 2007 (o que é impossível), o Brasil cresceria 4,8% neste ano. O IBGE também revisou o resultado do PIB de 2007, de 5,4% para 5,7%.

Apenas no terceiro parágrafo o mais importante. 2008 será um ano bom para a economia.

Para repetir o bom desempenho de 2007, o Brasil teria de crescer só 3,7% no último trimestre sobre o mesmo período de 2007, o que é possível. Mas isso já representaria uma forte desaceleração em relação aos 6,8% do terceiro trimestre.

Ah, eles não descartam uma desaceleração recorde, a fim de que o ano termine como em 2007, com crescimento de 3,7%;

Quem quiser ler todo o panfleto é só acessar (só para assinantes): http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi1012200802.htm

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A Cabeça do Marqueteiro ou a Política do Esvaziamento


Resenha do livro A Cabeça do Eleitor, de Alberto Carlos Almeida

A começar pelo título, Alberto Carlos Almeida é presunçoso. A Cabeça do Eleitor é o tipo de livro condenado, senão ao fracasso, ao simplismo. Já em seu subtítulo (Estratégia de Campanha, pesquisa e vitória eleitoral), vê-se aonde a obra quer chegar, e de que parâmetros parte. A redução da política ao marketing eleitoral – ou eleitoreiro, como queiram –, e a supressão das ideologias através do pensamento único midiático endossam e são o mote do livro

Não surpreende, ademais, que Alberto Carlos tenha escrito outra obra nos mesmos ditames. Seu livro A Cabeça do Brasileiro traça um perfil do brasileiro, concluindo que a elite é mais progressista, menos estatizante e, por outro lado, de acordo com o raciocínio de Almeida, as camadas “baixas da população” têm menos contribuição a dar ao país, além de serem afeitos ao jeitinho.

Não seria possível, assim, compreender os motivos e a lógica de A Cabeça do Eleitor sem ao menos conhecer a tese engendrada por Almeida em seu A Cabeça do Brasileiro que, de preconceituoso, dá vazão ao rebaixamento teórico, já que o livro tem por base da análise pesquisas de opinião feitas sobre o que pensa o brasileiro em diversos assuntos. Não que as pesquisas sejam desprezíveis, mas ao torná-las únicas ferramentas de análise, como se fossem espelhos de realidade, afastam o debate em torno de questões de importâncias sociológicas, histórica.

Eis, então, que se deve perguntar como alguém compreenderá o modo com que o brasileiro vota sem o arcabouço teórico legado por tantos autores que contribuíram para o aprofundamento do debate acerca da sociedade da brasileira. O simplismo de A Cabeça do Eleitor atenta contra a fina análise de pensadores como Raymundo Faoro, Sérgio Buarque de Hollanda, Darcy Ribeiro, entre outros, que ousaram pensar o Brasil sob outros matizes. Alberto Carlos Almeida ignora toda a sociologia ao propor uma lógica elementar por parte do eleitor. A ausência destes autores na bibliografia é reveladora.

Já pelas características explicitadas acima, A Cabeça do Eleitor demonstra que seu trabalho estará voltado não ao encorajamento do debate na sociedade brasileira, mas para consolidar o modo de fazer política como mercadoria. É cada vez mais visível que as campanhas eleitorais têm sido tomadas pela lógica do marketing, sendo a escolha do marqueteiro por parte dos políticos, aspecto fundamental da vitória eleitoral. A figura quixotesca do Kassabinho não deixa mentir.

Na toada do mercado, Almeida não se furta em comparar um político a uma mercadoria, tal qual uma bolacha, um refrigerante. “Quando o consumidor compra um produto, ele sabe o que está comprando. (...) O mesmo vale para os políticos”. Segue outro trecho: “Essa estratégia [consolidar votos entre os eleitores que já conhecem determinado candidato] é equivalente à famosa regra do marketing (...): é mais fácil aumentar a quantidade vendida de um cliente que já compra de você”.

Trechos assim parecem legitimar o esquecimento completo da política. Definitivamente, não parecem demasiado abstratas as análises do filósofo italiano Giorgio Agamben, a dizer que a política foi alçada a condição de peça de museu, e que sua destaxidermização – já que ela sofreu do empalhamento - põe-se como o grande desafio das próximas gerações.

Contudo, e a despeito das críticas e ao modo torto com que o autor possa imaginar a política, faz-se necessário avaliar que o livro tem dois momentos distintos. Os três primeiros capítulos tratam da estratégia de campanha, do modo com que Almeida imagina a lógica do eleitor. O segundo momento, do capítulo quatro ao oito, trata das pesquisas eleitorais, desde sua preparação até o momento de sua realização (trabalho de campo).

Assim, no primeiro momento, de fato o mais importante, Almeida desanca seu proselitismo, sua tese de que a elite seja progressista. Não pesa sobre ele o fato de que a elite seja responsável pela situação precária do trabalhador brasileiro, e menos que suas nada virtuosas políticas de desmonte do Estado sejam traumáticas para o País.

Mas é claro. Não pesa sobre Almeida, pois, apesar de defender em sua obra que as pesquisas de opinião sejam objetos neutros e dotados de isenção, ele prega a não-intervenção do Estado nos assuntos do mercado, o que não deixa de ser um posicionamento ideológico (neoliberal): “Se um instituto de pesquisa formula erradamente um questionário (...) esse instituto deve ser punido pelo mercado (...)”.  

Foi esta mesma retórica, a que de o Estado seja o mal necessário, daí a necessidade de enxugá-lo, aliás, que patrocinou a fanfarra das privatizações no Brasil. E os tempos atuais são pródigos para o lembrete: a falácia do Estado mínimo soçobra ao ver o que causou a desregulamentação desenfreada da economia, capitaneada por Thatcher e Reagan. 

De todos os problemas do livro, há uma ressalva a fazer. Almeida conhece bem os procedimentos de uma pesquisa eleitoral, tendo ele mesmo coordenado algumas. Por conhecer, avalia os pontos fracos de uma pesquisa, como o fraseado de suas perguntas, a que o autor diz modificar a resposta do eleitor. Ele sugere que a imprensa revele a que perguntas foram submetidos os pesquisados. Algo razoável.

Contudo, são poucos os momentos em que o autor levanta novos questionamentos.  O debate fica à margem, girando em torno de como ganhar uma eleição através do marketing, ou dele se utilizando. Almeida consente a lógica do mercado. Quanto à do eleitor, não é revelada. Sua suposta revelação é uma tentativa forçosa de estabelecer, cada vez mais, como parâmetro político a trapaça das técnicas eleitorais da publicidade. 

Neste sentido, a descrição da contracapa do livro nos é exemplar: A Cabeça do Eleitor, “do mesmo autor de Por que Lula?, que explica como vencer as eleições”. Não explica, porém, como vencer a desigualdade social, ou mesmo a razão de seu aprofundamento. Talvez resida aí, na disparidade entre classes, a grande questão do País. Lógica do eleitor? Não. Eleitor é cidadão, sujeito a Constituição. Não consumidor, sujeito ao Procon.

Saudações,

O blog do Luiz Henrique Mendes - À beira do politicamente (in)correto inaugura seus serviços, pitacos, etc e tal. 
Agora é para valer. Depois de gestar três ou quatro blogs, este será definitivo. Será um espaço para discussões políticas, esportivas (só para  hexacampões brasileiros, trimundiais), poéticas e o que mais for conveniente. 
Espero que você, internauta, goste.